segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Os Melhores Filmes de 2021 - Quo Vadis, Aida?

Durante a guerra da Bósnia, em 1995, uma professora da pequena cidade de Srebrenica é escalada como intérprete entre as forças do ONU e o cruel exército sérvio-bósnio (VRS).

Quando os sérvios ocupam a cidade e iniciam o que seria um dos maiores massacres do final do século XX, os moradores fogem para em busca de abrigo na base da ONU, que não tem capacidade para salvá-los e só permite a entrada de poucos refugiados, a maioria mulheres e crianças. 

Ao mesmo tempo que tenta salvar seus amigos e vizinhos, Aida - uma atuação iluminada de Jasna Đuričić - tenta esconder os homens de sua família na base. 

Um drama devastador da diretora Jasmila Žbanić, para que não esqueçamos das atrocidades que seres humanos podem perpetrar. 


sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Os Melhores Filmes de 2021 - The Father (Meu Pai)

Anthony é um músico viúvo, que aos 81 anos começa a sofrer as consequências da progressiva deterioração de sua memória. Ele tem dificuldade de reconhecer as pessoas, incluindo a própria filha e de organizar os fatos de maneira lógica, entrando num labirinto cada vez mais intrincado.

É quase um filme de terror. Poucas coisas podem ser mais reais e angustiantes que a confusão mental causada pela demência senil.

O diretor Florian Zeller adapta sua peça brilhantemente, colocando o espectador na posição do personagem central, experimentando a sensação de desconforto de quem está perdendo a sanidade.

Anthony Hopkins empresta muito de si ao personagem, que acabou lhe dando seu segundo e merecido Oscar, na melhor atuação de sua carreira. Olivia Colman não fica atrás. Como a filha torturada pelo crepúsculo do pai.

 

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Os Melhores Filmes de 2021 - Flee

Tradicionalmente usada para a fantasia, a animação aqui está a serviço da recriação documental das memórias fortes e traumáticas da fuga de um garoto e sua família do Afeganistão através da Rússia, até o destino final na Dinamarca, 20 anos mais tarde.

O documentário nasce da curiosidade do próprio diretor Jonas Poher Rasmussen, sobre o passado de seu companheiro, que conheceu como um refugiado, já adaptado à vida ocidental, mas que guardava as cicatrizes dessa dura travessia. 

Essa jornada acontece em paralelo ao amadurecimento do menino, descobrindo sua sexualidade, o que acabou por colocar ainda mais obstáculos em seu caminho. 

Para proteger sua identidade, o nome e aparência do imigrante foram alterados, mas sua história foi recriada minuciosamente, com um olhar empático, que imediatamente nos envolve e comove os corações mais duros.

Um filme que nos ajuda a perceber que as tragédias humanitárias podem entrar em nosso universo particular a qualquer momento e que estamos todos inescapavelmente interligados.



quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Os Melhores Filmes de 2021 - C'mon C'mon (Sempre em Frente)

O que os jovens esperam do futuro? Quais suas maiores preocupações?

Johnny (Joaquin Phoenix) é um jornalista solteiro, que trabalha num projeto de entrevistar crianças e adolescentes sobre esse tema, quando se depara com a necessidade de cuidar do sobrinho pequeno por alguns dias.

Ambos fora da zona de conforto, terão que entender os mundos um do outro, com os quais têm pouca intimidade, mas têm o laço de sangue que os une. 

As entrevistas em paralelo dão um ar de documentário ao filme, reforçado pela opção pela fotografia em preto e branco. E a proximidade com a vida real do sobrinho, nos ajuda a tangibilizar os depoimentos.

Sem apelar para clichês ou soluções fáceis, o roteiro do diretor Mike Mills envolve, enternece e nos aproxima desse pequeno recorte da vida, tão banal quanto poderoso. A química entre os atores ajuda a elevar o filme, o garoto Woody Norman é adorável e Phoenix segue sendo um dos grandes de sua geração. 

Um filme belo como a vida deve ser.


segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Os Melhores Filmes de 2021 - West Side Story (Amor Sublime Amor)

O original de 1961, de Jerome Robbins e Robert Wise é um dos grandes momentos da história do cinema, um marco de passagem da estética dos grandes estúdios para uma grande experiência imersiva, ousada e inovadora. 

Reproduzir esse momento é impossível. Então, por que uma refilmagem? Porque Steven Spielberg achava que tinha algo a acrescentar, com um olhar atualizado, e apresentar essa obra-prima às novas gerações.

Artisticamente ele se superou. Com mudanças sutis no roteiro original, consegue colocar em perspectiva uma época de grande transformação na cidade de Nova York e mesmo nas relações sociais.

Sua direção é fluida como nos seus melhores trabalhos e cada detalhe é cuidadosamente polido. Na falta de outro adjetivo, o resultado é extasiante. A coreografia, a fotografia, a edição, o som, os figurinos e a direção de arte são das melhores coisas que o cinema é capaz de produzir hoje e assim será por muito tempo.

Peça por peça, o elenco é todo melhor que o do filme de 1961. Até porque a melhor coisa do original era Rita Moreno, que volta aqui em um outro papel escrito especialmente para ela. Comecemos pelo casal central: Rachel Zegler, uma latina no papel de uma latina, ao contrário de Natalie Wood, que além de ser dublada nas canções era filha de imigrantes russos. Ansel Elgort é infinitamente mais expressivo que Richard Beymer. 

Ariana DeBose no papel de Anita é uma força da natureza, no nível de Moreno. Os líderes das gangs, David Alvarez e Mike Faist são duas revelações que certamente veremos muito num futuro próximo.

O grande problema são os momentos. O público atual é exposto a infinitos estímulos diariamente e dificilmente será seduzido por um musical longo, por mais bonito que seja. Mas Spielberg fez sua parte e surpreendeu, sua versão é ainda melhor que o original. Um dos filmes mais lindos que já vi.


* Uma observação importante: este filme deve e merece ser visto no cinema, mas infelizmente a distribuidora decidiu colocar nas legendas das canções o texto do libreto da montagem musical no Brasil. Como resultado, o que é cantado pelos atores é muito diferente da tradução na legenda, o que atrapalha demais o espectador. Parece uma versão livre, como por exemplo: "Tonight, tonight" vira "Você, você". É insuportável. Uma absurda falta de respeito com a obra e com o público. Se você entende minimamente o inglês, recomendo fortemente que tente ignorar as legendas.