O original de 1961, de Jerome Robbins e Robert Wise é um dos grandes momentos da história do cinema, um marco de passagem da estética dos grandes estúdios para uma grande experiência imersiva, ousada e inovadora.
Reproduzir esse momento é impossível. Então, por que uma refilmagem? Porque Steven Spielberg achava que tinha algo a acrescentar, com um olhar atualizado, e apresentar essa obra-prima às novas gerações.
Artisticamente ele se superou. Com mudanças sutis no roteiro original, consegue colocar em perspectiva uma época de grande transformação na cidade de Nova York e mesmo nas relações sociais.
Sua direção é fluida como nos seus melhores trabalhos e cada detalhe é cuidadosamente polido. Na falta de outro adjetivo, o resultado é extasiante. A coreografia, a fotografia, a edição, o som, os figurinos e a direção de arte são das melhores coisas que o cinema é capaz de produzir hoje e assim será por muito tempo.
Peça por peça, o elenco é todo melhor que o do filme de 1961. Até porque a melhor coisa do original era Rita Moreno, que volta aqui em um outro papel escrito especialmente para ela. Comecemos pelo casal central: Rachel Zegler, uma latina no papel de uma latina, ao contrário de Natalie Wood, que além de ser dublada nas canções era filha de imigrantes russos. Ansel Elgort é infinitamente mais expressivo que Richard Beymer.
Ariana DeBose no papel de Anita é uma força da natureza, no nível de Moreno. Os líderes das gangs, David Alvarez e Mike Faist são duas revelações que certamente veremos muito num futuro próximo.
O grande problema são os momentos. O público atual é exposto a infinitos estímulos diariamente e dificilmente será seduzido por um musical longo, por mais bonito que seja. Mas Spielberg fez sua parte e surpreendeu, sua versão é ainda melhor que o original. Um dos filmes mais lindos que já vi.
* Uma observação importante: este filme deve e merece ser visto no cinema, mas infelizmente a distribuidora decidiu colocar nas legendas das canções o texto do libreto da montagem musical no Brasil. Como resultado, o que é cantado pelos atores é muito diferente da tradução na legenda, o que atrapalha demais o espectador. Parece uma versão livre, como por exemplo: "Tonight, tonight" vira "Você, você". É insuportável. Uma absurda falta de respeito com a obra e com o público. Se você entende minimamente o inglês, recomendo fortemente que tente ignorar as legendas.